Nasci no dia 19 de março de 1982 e, como diria Rubem Alves, “faça as contas para saber quantos anos não tenho. Que "não tenho", sim; porque o número que você vai encontrar se refere aos anos que não tenho mais, para sempre perdidos no passado. Os que ainda tenho, não sei, ninguém sabe”.
A única coisa que sei e vou dividir com vcs, é que os 18 dias de março que antecedem o dia do meu aniversário podem ser considerados o meu inferno astral. Todo ano é a mesma coisa, desde que me entendo por gente, sempre foi assim: tudo o que pode dar errado, dá. E até o que não pode. Já não acredito mais em coincidência, já que isso se comprova a cada ano! E ainda que, consciente, eu faça de tudo pra que a cada ano que vem seja diferente, quando eu menos espero, vem bomba, chumbo grosso mesmo, areia no meu caminhão.
Sempre acordo abatida e cansada no dia de meu aniversário – o que não é nada justo comigo, já que adoooro apagar velinhas, cantar parabéns, fingir surpresa na hora de dar o 1º pedaço de bolo, e o mais importante: sair bem nas fotos! Claro que já utilizei de várias táticas para despistar essa nuvemzinha preta: já sumi e desliguei todos os aparatos eletrônicos que pudessem me localizarpra não receber sequer um parabéns, já comemorei alguns dias antes pra ver se a nuvemzinha se convencia e ia embora mais cedo, já fiz festa e não compareci (sim, os convidados ficaram me esperando, e até filmaram os parabéns e comeram do meu bolo para meu conhecimento posterior!), já comemorei à distância (organizei e distribuí convites para a festinha em outra cidade e participei por telefone!)... enfim, já tentei de tudo! Nada feito! Tudo continua dando errado!
E o mais curioso de tudo isso é que, passada a tempestade, logo no dia seguinte (20) a ressaca é fatal, mas tudo já começa funcionando melhor; ou melhor, funcionando apenas (o que já grande coisa). É como se a nuvemzinha se mancasse e saísse de cena, deixando o horizonte livre pro ano começar. Talvez por isso a festa mais simbólica de minha vida tenha sido perfeita: passou longe das águas de março. Aposto que quando meus pais programaram minha festa surpresa de 15 anos para o mês de outubro, nem faziam idéia do tamanho da encrenca a qual estavam se safando.
"São as águas de março fechando o verão/ É a promessa de vida no teu coração" (Antonio Carlos Jobim)